Rara mulher à frente de uma construtora no Brasil, Tanit Galdeano recebe a coluna para um café entregando, de cara, a carioquice do seu cotidiano. Na mesa, um exemplar de “Meu destino é ser onça” (2009), romance de Alberto Mussa que inspira o enredo da Grande Rio para o próximo carnaval. A dona da TAO Empreendimentos vinha de um almoço no Satyricon com o escritor, a atriz Regina Casé — que será uma das onças no desfile — e a diretoria da agremiação. Não era um encontro ao acaso: Tanit é ritmista entusiasmada há duas décadas e balança um dos chocalhos da escola de Caxias.
— Quando abandonei o consultório para entrar no setor imobiliário, fiquei deprimida. A percussão foi uma válvula de escape — lembra a ex-médica e psicanalista Kleiniana que foi primeiro introduzida no universo do samba pelo amigo Fernando Pinto, carnavalesco de Império Serrano e Mocidade morto precocemente em 1987.
A contragosto ou não, na virada do milênio, a filha única de Antônio Galdeano decidiu trabalhar com o pai porque todos acreditavam que ele estivesse gravemente doente. Não estava — só morreria em 2011 —, mas Tanit acabou tomando gosto pelo negócio.
Morro Dois Irmãos
Antônio Galdeano comprava terrenos em série, desenvolveu grande parte do Alto Leblon e seria lembrado pela tentativa frustrada de construir um hotel cinco estrelas na encosta do Morro Dois Irmãos. O projeto se arrastou por três décadas e lhe rendeu desafetos na política e até na intelectualidade — Antonio Callado dedicou mais de um artigo a criticá-lo —, mas foi engavetado em 1998. Em acordo com a prefeitura, Galdeano abriu mão do terreno em troca do direito de construir acima do gabarito na Avenida das Américas, na Barra da Tijuca. Foi aí que Tanit entrou na história.
— Éramos amigos do Carlos Carvalho, da Carvalho Hosken, e, quando visitávamos o Rio 2, eu achava que eles estavam malucos, que aquilo nunca daria certo. Mas embarquei na construção do Le Parc e do Le Monde na Barra graças à sociedade com o Elie Horn (dono da Cyrela). Aprendi muito com ele — conta.
Os empreendimentos na Avenida das Américas saíram pela incorporadora da própria Tanit, a TAO, fundada em 2002. (O nome vem das iniciais dos nomes dela e das filhas, Olívia e Antônia, que não trabalham no negócio — “ainda”, frisa a empresária). Depois, a companhia se dedicaria aos mercados residencial e comercial de Brasília e da Zona Norte do Rio, em bairros como Vila da Penha e Madureira. (A exceção foi o shopping Uptown, na Barra, lançado com a SIG em 2012.)
Agora, Tanit está dando uma guinada na empresa, em uma espécie de volta às raízes geográficas do negócio paterno. A TAO passou a concentrar esforços em segmento menos exposto ao freio dos juros altos: o mercado residencial de alto padrão na Zona Sul. O primeiro passo da estratégia foi o Jardim Pindorama, condomínio de sete casas na Gávea que serão entregues no ano que vem.
Com Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 90 milhões, o empreendimento fica no endereço da antiga Casa Rosa, onde morou Celso Rocha Miranda, que foi acionista majoritário da Panair do Brasil. Só uma unidade ainda está à venda, por R$ 15 milhões.
Colégio Padre Antônio Vieira
Este mês, a TAO inicia as vendas de um prédio de seis unidades e R$ 30 milhões de VGV na Lagoa. Trata-se do retrofit de um prédio inacabado que, desde os anos 90, destoava das fachadas do bairro. E, em abril, fará o lançamento de seu maior projeto até agora na Zona Sul: um residencial de 94 unidades e VGV de R$ 130 milhões no Humaitá, no endereço onde funcionou por 82 anos o Colégio Padre Antônio Vieira.
A escola da família Werneck fechou as portas no fim de 2022, e Tanit comprou o terreno de 2,6 mil metros quadrados. O projeto será de Celso Rayol, sócio da Cité Arquitetura e cujo filho era aluno do Antônio Vieira.
— A gente quer deixar a família feliz com o destino do imóvel. A casa tombada que há ali vai ser preservada — explica a empresária, que também comprou em leilão o escudo e placas de bronze do colégio.
'A Tijuca é a nova Zona Sul'
A partir de agora, o desafio de Tanit será encontrar onde construir na Zona Sul, uma das região mais disputadas do mercado imobiliário no país:
-- É uma gincana, mas acho que tem mercado pra todo mundo. Todos estão se dando bem. Adoraria fazer algo em Copacabana, em algum hotel desativado, mas ainda não encaixou.
Em paralelo, a TAO segue de olho na Zona Norte, onde vendeu um empreendimento de R$ 75 milhões em setembro, na Tijuca.
— A Tijuca é a nova Zona Sul — brinca ela, que não está tão convencida do potencial do Centro. — Seria ótimo construir lá. Meu pai era amigo do pai do Eduardo Paes, acho que a estratégia do prefeito para a região é louvável. Mas ainda não tenho certeza de que haverá demanda sustentada. Eu gosto de apostar, mas tenho que ter chance de ganhar.
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